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Refazendo Animálias
Tipo de projeto
Responsabilizando às espécies.
Local
Aracaju, SE - Brasil
Data
Maio 2025
Localização
Aracaju, SE - Brasil
Função
Mar - Artista plástica
Tipo de projeto
Arte Animal
Refazendo Animálias: uma contra-narrativa visual sobre animalidade e colonialidade.
Me parece, de fato, curioso o tipo de relação colonial que estabelecemos com a imagética animal. O corpo animal, historicamente associado ao valor — como as figuras estampadas em notas de dinheiro — é prontamente apagado com o avanço das transações online. A animalidade, antes símbolo de posse, produção ou hobby, desaparece junto com a materialidade que a sustentava.
Corpos que eram valiosos enquanto propriedades tornam-se invisíveis no fluxo da virtualidade — e não apenas os não humanos. Também os corpos humanos explorados por esse mesmo sistema se esfarelam na esfera digital. A semiótica animal, assim como a carne, se desfaz nas promessas da velocidade e da abstração.
As imagens veganas, por exemplo, retratam corpos abusados, machucados e sem protagonismo. A dor e o sofrimento reduzem a existência de uma vida — e sua imagem — a um recurso simbólico a serviço dos ideais redentores e do mito da salvação humana, diante de uma crise criada por ele mesmo através de seu próprio modelo de produção.
Quando cheguei em Sergipe, logo percebi passagens interessantíssimas sobre a imagética animal. A cidade apresenta mais animalidade humana do que vi em muito tempo — uma ocupação do espaço urbano e uma qualidade de vida que contrastam com os lugares que já habitei. Foi nesse contexto que a noção de “reabilitação animal” passou a me parecer ainda mais intrigante.
Quem reabilita quem? Quem, de fato, precisa de reabilitação? Até que ponto a imagem do humano como salvador precisa existir, tautologicamente, para que nosso ego sobreviva — e se alivie diante da ausência de responsabilização diante das outras espécies?
Dentro da lógica proposta pela artista — de criar em conjunto, responsabilizar as espécies e reenvolver o binarismo — este projeto visa inverter o olhar moldado por nossas lentes racionalistas, por meio da responsabilização da própria espécie humana.
Em continuidade, busca subverter a lógica da reabilitação, propondo, em seu lugar, um convite à habitação, ao envolvimento e ao relacionamento interespécie — uma relação que oscila intensamente entre formas de convivência, ora livres, ora inevitáveis, e que ainda custamos a reconhecer como parte vital de nós.



