Manifesto
Selvagem de
Convivência do
ATELIÊ BICHO:
(vivo e selvagem)
O Manifesto Selvagem é uma organização viva, latente e comunitária do Ateliê Bicho.
Aqui, nos sustentamos nas tramas da coexistência multiespécie. Este manifesto, tal como a vida e a arte, não é estático. É documento em respiração — sujeito às nuances do ciclo morte-vida.
Nosso propósito é garantir o existir criativo de cada ser, humano ou mais-que-humano, que habita, visita ou atravessa este espaço.
Para tanto, partimos dos seguintes princípios:
1. O consentimento é inegociável.
Ninguém, de nenhuma espécie, será forçado a participar de qualquer atividade. Toda interação parte do convite e do desejo de estar junto.
2. Estamos formigas.
Assim como as formigas, cada integrante do ateliê reconhece e assume sua parte socioafetiva dentro deste espaço. As relações — entre todas as espécies — são horizontalizadas, respeitando os limites e a colocação de cada agente deste território.
3. O território é compartilhado.
Este não é um lugar de posse, mas de encontros. Respeitamos o tempo, o corpo e o espaço do outro — seja este outro bicho, planta ou gente.
4. A escuta precede a expressão.
O silêncio é fértil. Escutamos o ambiente, os sons, os movimentos, os gestos dos animais, os afetos que nos atravessam. Depois, criamos.
5. A vida é suja.
Aceitamos o imprevisto, o borrado, o que cai no chão, o que escapa à técnica. A natureza é imperfeita e, por isso, criadora.
6. A arte é relação.
Mais do que produto, entendemos a arte como processo, vínculo, gesto de cuidado. Cada obra nasce das relações que cultivamos no cotidiano do ateliê.
7. A presença é o bastante.
Nem todo dia é dia de produzir. Às vezes, é dia de só estar. De observar um coelho cavar. De olhar a luz entrando. De respirar junto. De jogar um jogo. De brincar com um gato.
8. A comunidade se cuida.
Zelamos uns pelos outros. As tarefas são coletivas, os cuidados se alternam. Toda pessoa aqui é responsável pelo bem-estar do espaço e de seus habitantes. Cuidar do espaço é cuidar do outro, é cuidar de si e do lar.
9. Não há hierarquia entre espécies.
Valorizamos as vidas em sua pluralidade. Nenhum corpo vale mais do que outro. A vida do peixe importa tanto quanto a do artista.
10. Espaço de encontro de estilo.
Aqui não há certo ou errado, bonito ou feio. Há tentativas. Há experimentos. Há liberdade de criar sem medo. Estamos na coexistência criativa e na busca do estilo. A técnica serve ao fazer, não o contrário.
11. Este manifesto pode mudar.
Porque o tempo muda, o mato cresce, os bichos vão e vêm, e nós também nos transformamos. Este manifesto será reescrito quantas vezes forem necessárias.
Reanimalizar-se como ato de existência.